terça-feira, 11 de setembro de 2012

Lágrimas de Sereia "plastic Pellets" ou Esférulas plásticas.

Lágrimas de sereia

Marcus Fernandes


Créditos: Lágrimas de sereia 

Antes de atingir o oceano e seguir flutuando até formar as chamadas ‘ilhas de lixo’, os detritos, principalmente plástico, tem como destino às praias. Aqui mesmo no litoral paulista é possível encontrar esse tipo de resíduo. Se você olhar atentamente, vai perceber que esse tipo de contaminação já se faz presente nas areias das praias da região. Aliás, você pode encontrá-las em praticamente todas as praias do mundo.



São pequenas bolinhas, que podem ser brancas, meio amareladas ou mesmo coloridas, tendo entre um e cinco milímetros de diâmetro – cabem na ponta do seu dedo.

Se você já viu essas bolinhas, que se misturam de forma quase imperceptível na areia, saiba que elas não são naturais e recebem vários nomes: pellets, nibs ou, mais poeticamente, ‘lagrimas de sereias’.

O que são? Nada mais, nada menos do que plástico, em geral polipropileno ou polietileno. É dessa forma, em pellets (bolinhas ou grânulos, em inglês) que a matéria prima dos produtos plásticos é fabricada nas indústrias químicas. Separados em mais de 40 diferentes tipos, esses grãos são então transportados pelo mundo inteiro.

Quando chegam às fábricas, eles são colocados em máquinas que darão o formato final desejado, tais como copinhos, garrafas, baldes, mamadeiras, isolantes de fiação, réguas, canetas, bolas, seringas, bonecas enfim, milhares de produtos presentes no nosso cotidiano ´´ um processo que cresceu vertiginosamente a partir do final da 2ª Guerra Mundial, quando os polímeros começaram a ser produzidos em larga escala, provocando uma profunda mudança no cotidiano da humanidade.

Santos é escolhida

Hoje, os minúsculos pellets são um problema mundial, com vários estudos publicados, principalmente no Japão, Estados Unidos e Europa.

No Brasil, onde há apenas registros esporádicos, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram no ano passado o primeiro levantamento sistemático desses resíduos nas areias das praias da região.

Em Santos, Cidade escolhida como base para o início da pesquisa, as primeiras coletas indicaram a presença de até 20 mil pellets por metro cúbico de areia em determinados trechos da orla. O número pode impressionar, mas, por enquanto, não há como comparar com outras regiões.

“Isso só será possível a partir do final deste ano e ao longo de 2010. Até lá, nosso trabalho tem como objetivo refinar o método de coleta na areia”, afirma Alexander Turra, do Instituto de Oceanográfico da USP (IOUSP), coordenador do estudo (veja quadro ‘Como é feita a pesquisa’).

Soluções

Essa primeira fase do trabalho, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ficará restrita à Baixada Santista. Em seguida, será expandida para todas as praias do Estado, cuja previsão é estar concluída em 2011, desta feita com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Só então, avalia Turra, será possível saber a real distribuição deste microlixo em todo o litoral paulista, inclusive identificando as áreas mais impactadas.

“A partir daí, nosso objetivo é conversar com todos os agentes envolvidos e buscar soluções. Hoje, em princípio, é praticamente impossível pensar em recolhê-los das praias. O ideal seria identificar as fontes de origem e agir conjuntamente para minimizar a dispersão dos pellets”.

 

 

- Como é feita a pesquisa

Atualmente, a equipe do IOUSP recolhe os pellets utilizando uma cavadeira manual, tipo trado (uma mistura de cavadeira com broca), muito usada nas praias para fincar as traves de campos de futebol, por exemplo. Os pesquisadores escolhem ao acaso partes da praia e cavam até a profundidade de um metro. Em seguida, a areia é colocada em um balde com água do mar para que as bolinhas flutuem. O próximo passo é coletar, contar e etiquetar os pellets. No laboratório, eles são separados por cor, tamanho e grau de desgaste, possibilitando aos cientistas descobrirem de que tipos de polímeros são feitos. Até agora, segundo Alexander Turra, cerca de 90% é composto por polipropileno (material utilizado na confecção de potes, tampas, móveis plásticos, corpos de eletrodomésticos, utilidades domésticas, peças automobilísticas etc) e polietileno (matéria-prima de baldes, garrafas, revestimentos de fios e cabos elétricos, produtos de limpeza, de higiene etc). 

 




Nenhum comentário:

Postar um comentário